quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

O anjo hippie

Ela chegou em casa dizendo que tinha conversado com o um anjo. Eu estranhei, achando que era mais uma brincadeira ou que ela estava começando a caducar ver anjos por aí, assim como a minha vó. Ela, minha mãe, percebeu minha expressão intrigada e colocou a mão no bolso, tirando dele um anel. Era um anel simples, feito com arame dobrado, com um coração meio torto. Ela me contou que estava andando na rua, apressada, quando um dos hippies que ficam do lado do terminal de ônibus chamou a atenção dela. Geralmente isso acontece porque eles querem vender algum de seus brincos, colares, pulseiras, mas daquela vez era algo diferente. Ele chamou e ela virou para ver o que ele queria.
"Moça, o que você acha mais importante? As coisas do céu, da terra ou do coração?"
Minha mãe parou por uns instantes, mas logo respondeu.
"As do coração, porque fazem com que a gente fique mais perto do céu e da terra."
"Gostei da tua resposta, moça, vou guardar pra sempre", o tal hippie falou, começando a entortar seu pedaço de arame e fazendo o anel, entregando para minha mãe. Ela disse que voltaria ali outra hora para comprar alguma coisa para as filhas dela, mas o hippie disse que não estaria mais ali.
"Vou voltar para minha cidade. Aqui é muito marasmo, eu não aguento mais."
Minha mãe se despediu e foi até o banco, que era seu destino final. Quinze minutos depois ela voltou a passar por ali, mas o hippie havia sumido.

Eu fiquei meio impressionada quando minha mãe me contou essa história. Não porque eu ache que o hippie tenha sumido, mas porque é o tipo de conversa que não se tem todo dia.
Não é todo dia que você ganha um anel de um hippie-anjo.

Outra coisa que também pensei foi que se um HIPPIE acha que a cidade onde moro é parada demais, é porque realmente tem alguma problema com ela.
Sorte dele que foi embora!